quinta-feira, 8 de março de 2012

Histeria coletiva

Numa época, assim como todas as outras, de histeria coletiva religiosa me sinto oprimido. Não, não tenho medo de me colocarem numa fogueira, esquartejarem, desmembrarem (como se alguém fizesse isso com outro por não concordar com uma posição filosófica, ora vejam) por não acreditar em amigos sobrenaturais. Até passa um pouco pela covardice, inércia estupidificante, falta de reflexão das pessoas em assumirem sua incredulidade, não apenas dizer: "eu não gosto da Igreja Católica, mas de Deus... ou "eu não acredito nesse deus, mas numa coisa de energia...". Parem com isso!! As pessoas com um mínimo de bom senso ficam incapazes de dizer simplesmente quando perguntadas: não, eu não acredito em nada disso! E ponto final, não precisa de mais nada! É tanta estupidificação que os bravos tornam-se revoltados, os incréus tem de ser devotos do ateísmo para combater as hordas da superstição, eu tenho que ficar me contendo para não acrescentar nenhum comentário sarcástico depois do ponto final. Sei que é lógico que os crentes (vá lá, tome-o de forma pejorativa mesmo) nunca são tão razoáveis, aliás nada razoáveis, afinal a razão não tem muita chance por ali mas a incapacidade dialética é uma marca distinta da religiosidade.
Acreditar é entregar-se, é estar vulnerável mas também acolhido pelo outro, mas acima de tudo retirar a película da alto proteção crítica e simplesmente cair pra trás. Nessa queda podemos ser amparados (essa é a ideia!) ou cairmos em cima de alguém. Quando nos entregamos dessa maneira a incapacidade de perceber a visão do outro é imensa, afinal é VOCÊ que está se entregando, é a sua hora, irmão! Movimento retilíneo egoisticamente uniforme! Deus, EU preciso de você, EU estou em dificuldades, EU mereço (ou não mereço e me puna por isso) a vida eterna. O movimento não é de amparo mútuo, como as atribulações da vida precária e transitória que levamos deveria requerer, mas de amparo único. Eu preciso de amparo, e preciso agradecer essa muleta sobrenatural para merecer a muleta para me amparar ad infinitum. Disso vem a dificuldade e grande energia despendida pelas religiões modernas para inculcar o valor do donativo, da caridade, afinal bem lá no fundo (não, não tão fundo assim), o âmago de tudo está o medo da morte e nada é mais poderoso, imenso, edificativo que esse terror e nada mais egocentrado, afinal a morte é só minha e o mundo continuará muito bem obrigado depois dela.
Diante dessa dificuldade de assumir o bom senso, resta esbravejar contra as diatribes mais visíveis das igrejas quadrangulares, da pedofilia apostólica romana, dos mulás bombas, dos lamentadores de preto e suas colônias do mal. Mas é cada vez mais opressor estar simplesmente livre da metafísica quando tudo a sua volta, na aparente secularidade iluminista, clama pelo sobrenatural. As pessoas cultivam seus amigos imaginários, cultiva-se o arcabouço cultural sobrenatural diariamente, a tecnologia não supre meu amparo ilusório então meu deus, dai-me sua mão e me leve contigo nesse processo de auto alucinação alienante...
A verdade simples do caos aleatório da vida e morte de tudo é destorcida, amassada, retorcida e vendida sob as mais diversas fantasias, e nesse baile de máscaras catártico você chegou tarde e está sóbrio.

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