Acreditar é entregar-se, é estar vulnerável mas também acolhido pelo outro, mas acima de tudo retirar a película da alto proteção crítica e simplesmente cair pra trás. Nessa queda podemos ser amparados (essa é a ideia!) ou cairmos em cima de alguém. Quando nos entregamos dessa maneira a incapacidade de perceber a visão do outro é imensa, afinal é VOCÊ que está se entregando, é a sua hora, irmão! Movimento retilíneo egoisticamente uniforme! Deus, EU preciso de você, EU estou em dificuldades, EU mereço (ou não mereço e me puna por isso) a vida eterna. O movimento não é de amparo mútuo, como as atribulações da vida precária e transitória que levamos deveria requerer, mas de amparo único. Eu preciso de amparo, e preciso agradecer essa muleta sobrenatural para merecer a muleta para me amparar ad infinitum. Disso vem a dificuldade e grande energia despendida pelas religiões modernas para inculcar o valor do donativo, da caridade, afinal bem lá no fundo (não, não tão fundo assim), o âmago de tudo está o medo da morte e nada é mais poderoso, imenso, edificativo que esse terror e nada mais egocentrado, afinal a morte é só minha e o mundo continuará muito bem obrigado depois dela.
      Diante dessa dificuldade de assumir o bom senso, resta esbravejar contra as diatribes mais visíveis das igrejas quadrangulares, da pedofilia apostólica romana, dos mulás bombas, dos lamentadores de preto e suas colônias do mal. Mas é cada vez mais opressor estar simplesmente livre da metafísica quando tudo a sua volta, na aparente secularidade iluminista, clama pelo sobrenatural. As pessoas cultivam seus amigos imaginários, cultiva-se o arcabouço cultural sobrenatural diariamente, a tecnologia não supre meu amparo ilusório então meu deus, dai-me sua mão e me leve contigo nesse processo de auto alucinação alienante... 
    A verdade simples do caos aleatório da vida e morte de tudo é destorcida, amassada, retorcida e vendida sob as mais diversas fantasias, e nesse baile de máscaras catártico você chegou tarde e está sóbrio.
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